domingo, 13 de novembro de 2016

Preto Pio lutou pela liberdade

Poucos sabem, mas em fins de outubro de 1887 ocorreu uma fuga de escravos na cidade de Capivari / SP. O líder dessa fuga era o escravo conhecido por Preto Pio. Centenas de escravos fugiram das fazendas dessa cidade e também de Porto Feliz e Sorocaba. Foram à pé até a Serra do Cubatão, onde, ocorreu um desentendimento entre Preto Pio e um soldado do exército, resultando na morte de ambos.
A luta do Preto Pio acabou por resultar na recusa do Exército brasileiro em continuar dando caça aos escravos fugitivos e, consequentemente, impulsionou a assinatura da Lei Áurea (13 de maio de 1888) seis meses depois desse episódio.

Preto Pio é o Spartacus e é o Zumbi do Médio Tietê!

Viva a memória do Preto Pio!

"Senhora!
"Os oficiais, membros do Clube Militar, pedem a Vossa Alteza Imperial vénia para dirigir ao Governo Imperial um pedido, que é antes uma súplica... ". . .Esperam que o Governo Imperial não consinta que nos destacamentos do Exército, que seguem para o interior, com o fim, sem dúvida, de manter a ordem, tranqüilizar a população e garantir a inviolabilidade das famílias, os soldados sejam encarregados da captura de pobres negros, que fogem à escravidão, ou porque vivam já cansados de sofrer os horrores, ou porque um raio de luz da liberdade lhes tenha aquecido o coração e iluminado a alma.Senhora! A liberdade é o maior bem que possuímos sobre a terra; uma vez violado o direito que tem a personalidade de agir, o homem, para reconquistá-lo, é capaz de tudo: de um momento, um covarde torna-se um herói; ele, que dantes era a inércia, se multiplica e se subdivide, e, ainda mesmo esmagado pelo peso da dor e das perseguições, ainda mesmo reduzido a morrer, de suas cinzas renasce sempre mais bela e mais pura a liberdade... Impossível, pois, Senhora, esmagar a alma humana que quer ser livre. Por isso, os membros do Clube Militar, em nome dos mais santos princípios da humanidade, em nome da solidariedade humana, em nome da civilização, em nome da caridade cristã, em nome das dores de Sua Majestade, o Imperador, vosso augusto Pai, cujos sentimentos julgam interpretar e sobre cuja ausência choram lágrimas de saudades, em nome do vosso futuro e do futuro de vosso filho, esperam que o Governo Imperial não consinta que os oficiais e as praças do Exército sejam desviados da sua nobre missão. Eles não desejam o esmagamento do preto pelo branco e não consentiriam também que o preto, embrutecido pelos horrores da escravidão, conseguisse garantir a sua liberdade esmagando o branco. O Exército havia de manter a ordem. Mas, diante de homens que fogem calmos, sem ruído, mas traquilamente, evitando, tanto a escravidão como a luta, e dando, ao atravessar cidades, enormes exemplos de moralidade, cujo esquecimento tem feito muitas vezes a desonra do Exército mais civilizado, o Exército Brasileiro espera que o Governo Imperial conceder-lhe-á o que respeitosamente pede em nome da humanidade e da honra da própria bandeira que defende." 
26 de outubro de 1887  

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

NEGRO, JOVEM E HIP HOPPER: HISTÓRIA, NARRATIVA E IDENTIDADE EM SOROCABA

NEGRO, JOVEM E HIP HOPPER: HISTÓRIA, NARRATIVA E IDENTIDADE EM SOROCABA

JAQUELINE LIMA SANTOS 

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Faculdade de Filosofia e Ciências – Campus de Marília, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Ciências Sociais. Orientador: Prof. Dr. Andreas Hofbauer



Esta pesquisa tem por objetivo entender o estabelecimento do movimento Hip Hop na cidade de Sorocaba (SP) por meio da experiência negra deste município. Para chegar a tal objetivo tomou-se como referência a trajetória de vida de Márcio Brown: jovem negro que, ao relatar sua memória pautada por questões raciais, expõe elementos coletivos que nos permitem entender o momento de consolidação deste movimento em sua cidade. Intencionamos, a partir de um relato autobiográfico, explicar processos de subjetivação que levam a mobilizações político-raciais e, ao mesmo tempo, problematizar conceitos como raça, racismo, essencialismo, cultura, diáspora Africana e identidade. Palavras-chave: Hip Hop; trajetória de vida; Sorocaba; identidade negra; diáspora africana

Negros e pardos são 22,5% da população

http://www.jornalcruzeiro.com.br/materia/581572/negros-e-pardos-sao-225-da-populacao


Telma Silvério 


20/11/14 | Equipe Online - online@jcruzeiro.com.br
O número de pessoas que se declaram negras ou pardas em Sorocaba é de 143.731, conforme dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com o levantamento, desse total de pretos e pardos (de acordo com nomenclatura adotada pelo IBGE), 73.539 são homens e 70.192 mulheres. Em 2000, esse total era de 86.541 pessoas, sendo 44.938 homens e 41.603 mulheres. Com base nesta última estatística, pouco menos de um quarto (22,5%) do total da população do município -- estimada em julho deste ano em 637.187 habitantes -- é formada por pessoas da raça negra. 



Para Ademir Barros dos Santos, estudioso da africanidade e membro do Núcleo de Cultura Afro-Brasileira (Nucab) da Uniso, o aumento da população afrodescendente é atribuído a duas vertentes. A primeira é pelo estímulo de discussões sobre o que é o negro e o que é ser negro, seja por meio dos movimentos e da ação efetiva da militância. Santos revela que, antes, principalmente os pardos, escondiam a sua própria cor por medo ou até vergonha. "Hoje essa discussão tem permitido que as pessoas apareçam e assumam sua cor." Outra vertente, acrescenta, é o aparecimento da cultura negra e mestiça e, consequentemente, a sua valorização. 


Para o estudioso do Nucab, a valorização da cultura negra é evidente. "Paulo Freire dizia, e antes existia mesmo, uma situação-limite para a situação do negro." Santos acredita que a "prisão cultural" em que se encontravam os negros vem se rompendo. Por outro lado, ele destaca um racismo mais violento nos dias atuais. "O racismo que vitima os negros está mais forte e explícito. Vem se perenizando há quinhentos anos e continua existindo e até se universalizando. Isso até por conta da velocidade das informações", considera. 


Os dados indicam o resultado de um trabalho para melhorar a visibilidade da cultura negra, seja pelos movimentos sociais e políticas públicas, ressalta a Coordenadoria da Igualdade Racial da Secretaria de Desenvolvimento Social, Lucimara Rocha. 


A advogada Tamara Braga, da Comissão da Igualdade Racial da OAB - Subseção de Sorocaba, afirma que esse crescimento de pessoas que se reconhecem negras é um processo que se evidencia em todo o país. "É reflexo do fortalecimento da questão identidade", comenta. "Acredito que esses dados mostram um avanço da população que hoje não teme a sua etnia. Ao contrário, vê-se cada vez mais a abertura de espaço para a valorização da cultura afro-brasileira." 


As profissões que raramente eram ocupadas por negros hoje têm referências para os afrodescedentes, observa a advogada. Tamara Braga fala do aumento de jovens negros nas universidades em busca da mesma oportunidade. Também cita personalidades como a primeira juíza afro-brasileira, Luislinda Valois; e o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa. Além de estar presente em diversas áreas profissionais, o negro ganhou mais visibilidade na mídia, com personagens não somente em papéis de submissão ou menos importantes. "Trazem aos jovens negros, às crianças negras, referências positivas que reforçam o processo de reconhecimento", avalia ela. 


Embora o Brasil tenha avançado em políticas públicas, a coordenadora de Igualdade Racial, Lucimara Rocha, explica que "ainda falta muito". Além das cotas em universidades, ela cita a lei 10.639/2003 que inclui o ensino de cultura afro na educação. Apesar de existir há onze anos, ela não é aplicada na prática. 


É preciso uma ação mais efetiva do Ministério da Educação, dos governos e demais setores, cobra o estudioso do Nucab, Ademir Barros. A lei tem onze anos e nas salas de aula o debate sobre a cultura negra é estimulada normalmente em novembro, mês em que é comemorado o Dia Nacional da Consciência Negra. "O negro continua a aparecer na escola como escravo", lamenta Santos.

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

PASSEIO MEMÓRIAS NEGRAS SOROCABANAS

Terra rasgada, cidade tropeira, Manchester Paulista ,nossa terra tem muitas lembranças que abrandam e inspiram momentos de grandeza,pois na sua beleza humaniza até a escravidão ,apagando suas marcas, mudando trajetórias, mas sobraram memórias que lembram os fatos escuros ,retratando um mundo que nos leva a pensar.
Pra começar, vamos no Mercadão relembrar a Capela que ali existiu, território negro ,tinha rodas e água ,imperou a chibata da desapropriação não ficou um quinhão pra poder nos lembrar ,coube então soterrar ,só no resta comprar...
Logo a frente vamos pra Catedral, encontrar Benedito,este santo assumido que viveu excluído no seu traço europeu mas se o homem é de Deus não tem só uma feição ele é preto meu irmão e não se esconde mais.
E a nossa senhora, resgatada na rede trouxe peixes no rio hoje foge de outras águas, que apagam as marcas de um negro devoto, lá se vai um registro vai restar só um mito sobre aparição ,se não houve perdão fica apenas a pena já não vejo a cena  só nos resta o respiro.
Encontramos a praça e vejo as oligarquias, na soberba distinta com sorriso no olhar ,era o “Footing” nos finais de semana, com uma banda bacana todos a desfilar, tenha calma vamos sem “misturança” cada classe da dança deve ser respeitada e não venha com grassa se você é mais escuro ,não separo com muros mas no círculo do mundo todos tem seu lugar.
Vamos indo ,a irmandade sorrindo, consagrando seus ritos na porta “sinhô”, com pavor vamos logo saindo, o lugar é distinto pra negro edificar, ainda tem nesse mundo quem acredita que a fé tem formato e até, uma regra de cor, pois somente um senhor pode edificar
No caminho seguindo vejo falsos heróis, registrados em placas, escondidos nas datas que amenizam a dor ,apagando o horror de um tempo sombrio  deste nosso Brasil que insiste em assombrar é importante lembrar pra não deixar esquecer ,quem bateu fez doer é um conforto esquecer!
Rua íngreme logo se aplana vem aquela lembrança desta nossa festança, escuto nossos tambores ,Umbigada, energia vital, harmonia geral pra quem se permite sentir,  ocupamos a praça pra lembrar das Capelas e acendemos a vela da lembrança sem casa ,que não aceitava pousada,  descansou sem uma vala mas ganhou moradia.
Lá na rua da Bica seguimos ao Ventre Livre, atirando sem rifles em sonhos de liberdade buscamos a humanidade o acaso apronta e no traz um emissário de um longínquo cenário que nos faz indagar:
Como vão os irmãos frutos da escravidão, encarando o destino de um tirano escolher, como pode oprimir pra poder excluir que não foi incluído e continua perdido construindo seus mitos de uma terra melhor.

Caminhando passamos pela irmandade de São Benedito relembramos seus ritos e seguimos andando, não mudamos os planos, pois já esta terminando a viagem no tempo, eu não fiz juramento mas eu quero cumprir o caminho final  ver aquela escultura que já está meia aflita ,remetendo a feridas que não querem fechar ,não queremos lembrar mas não podemos esquecer  e com muito prazer vou ficar por aqui foi assim que eu senti, agora posso sorrir, relembrar, resistir...   

MANOEL FRANCISCO FILHO

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Mãe Preta

Quadro da Mãe Preta... Amamentando o filho do "senhor", sendo obrigada a negligenciar o seu...
Fonte: http://conservasp.blogspot.com.br/2011/05/fotos-que-mostram-falta-de-conservacao.html

Fonte: http://www.diariodesorocaba.com.br/noticia/217559
Foto: Pedro Henrique Negrão

Vida Social dos Negros Sorocabanos em 1978


Em 1978, três ou quatro negros apenas eram sócios do Sorocaba Clube, "marca que é seguida, também, por alguns outros clubes".



domingo, 6 de novembro de 2016

IV Encontro Mês da Consciência Negra. I Seminário de Educação Quilombola.: Meu Sorriso Negro V 20

IV Encontro Mês da Consciência Negra. I Seminário de Educação Quilombola.: Meu Sorriso Negro V 20

O "Footing" e a separação étnica e social em Sorocaba

[A informação é do jornalista Alcir Guedes, disponível no link abaixo]

http://entrefatoseboatos.blogspot.com.br/2007/11/passeios-da-dcada-de-40-e-o-footing-da.html

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Passeios da década de 40 e o "footing" da praça

Aos sábados e domingos à noite, havia “footing” na praça central. Enquanto a banda musical tocava no coreto, a juventude dava voltas na praça à procura normalmente de um novo namoro. As moças iam da esquerda para a direita e os rapazes vinham da direita para a esquerda, de quem os olhava da calçada do Recreativo-Gabinete. Havia três duplas de voltas, com moças e moços se cruzando de tal modo que pudessem se olhar cara a cara, facilitando o flerte e o convite para sair. As voltas maiores eram reservadas às pessoas brancas, da classe média, enquanto a dupla de voltas do meio era reservada às pessoas do nível mais modesto, e a dupla de voltas menores, a do meio da praça, a mais próxima do coreto, era freqüentada por pessoas de cor.
Havia naquele tempo discriminação social e preconceito de cor tão acentuados, que se demonstravam claramente em público sem nenhum temor. O pior: os que pertenciam à elite não entravam nessas rodas. Ficavam espiando e debochando de longe, da calçada do Recreativo e do Gabinete de Leitura, metidos numa fatiota, parecendo que analisavam de cima de um trono a pobreza de seus semelhantes. O “footing” começava ao escurecer de sábado e domingo e não passava das 22 horas, quando a banda musical parava de tocar e se desfazia, no mesmo tempo, o “observatório da discriminação social”.