sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Negros e pardos são 22,5% da população

http://www.jornalcruzeiro.com.br/materia/581572/negros-e-pardos-sao-225-da-populacao


Telma Silvério 


20/11/14 | Equipe Online - online@jcruzeiro.com.br
O número de pessoas que se declaram negras ou pardas em Sorocaba é de 143.731, conforme dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com o levantamento, desse total de pretos e pardos (de acordo com nomenclatura adotada pelo IBGE), 73.539 são homens e 70.192 mulheres. Em 2000, esse total era de 86.541 pessoas, sendo 44.938 homens e 41.603 mulheres. Com base nesta última estatística, pouco menos de um quarto (22,5%) do total da população do município -- estimada em julho deste ano em 637.187 habitantes -- é formada por pessoas da raça negra. 



Para Ademir Barros dos Santos, estudioso da africanidade e membro do Núcleo de Cultura Afro-Brasileira (Nucab) da Uniso, o aumento da população afrodescendente é atribuído a duas vertentes. A primeira é pelo estímulo de discussões sobre o que é o negro e o que é ser negro, seja por meio dos movimentos e da ação efetiva da militância. Santos revela que, antes, principalmente os pardos, escondiam a sua própria cor por medo ou até vergonha. "Hoje essa discussão tem permitido que as pessoas apareçam e assumam sua cor." Outra vertente, acrescenta, é o aparecimento da cultura negra e mestiça e, consequentemente, a sua valorização. 


Para o estudioso do Nucab, a valorização da cultura negra é evidente. "Paulo Freire dizia, e antes existia mesmo, uma situação-limite para a situação do negro." Santos acredita que a "prisão cultural" em que se encontravam os negros vem se rompendo. Por outro lado, ele destaca um racismo mais violento nos dias atuais. "O racismo que vitima os negros está mais forte e explícito. Vem se perenizando há quinhentos anos e continua existindo e até se universalizando. Isso até por conta da velocidade das informações", considera. 


Os dados indicam o resultado de um trabalho para melhorar a visibilidade da cultura negra, seja pelos movimentos sociais e políticas públicas, ressalta a Coordenadoria da Igualdade Racial da Secretaria de Desenvolvimento Social, Lucimara Rocha. 


A advogada Tamara Braga, da Comissão da Igualdade Racial da OAB - Subseção de Sorocaba, afirma que esse crescimento de pessoas que se reconhecem negras é um processo que se evidencia em todo o país. "É reflexo do fortalecimento da questão identidade", comenta. "Acredito que esses dados mostram um avanço da população que hoje não teme a sua etnia. Ao contrário, vê-se cada vez mais a abertura de espaço para a valorização da cultura afro-brasileira." 


As profissões que raramente eram ocupadas por negros hoje têm referências para os afrodescedentes, observa a advogada. Tamara Braga fala do aumento de jovens negros nas universidades em busca da mesma oportunidade. Também cita personalidades como a primeira juíza afro-brasileira, Luislinda Valois; e o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa. Além de estar presente em diversas áreas profissionais, o negro ganhou mais visibilidade na mídia, com personagens não somente em papéis de submissão ou menos importantes. "Trazem aos jovens negros, às crianças negras, referências positivas que reforçam o processo de reconhecimento", avalia ela. 


Embora o Brasil tenha avançado em políticas públicas, a coordenadora de Igualdade Racial, Lucimara Rocha, explica que "ainda falta muito". Além das cotas em universidades, ela cita a lei 10.639/2003 que inclui o ensino de cultura afro na educação. Apesar de existir há onze anos, ela não é aplicada na prática. 


É preciso uma ação mais efetiva do Ministério da Educação, dos governos e demais setores, cobra o estudioso do Nucab, Ademir Barros. A lei tem onze anos e nas salas de aula o debate sobre a cultura negra é estimulada normalmente em novembro, mês em que é comemorado o Dia Nacional da Consciência Negra. "O negro continua a aparecer na escola como escravo", lamenta Santos.

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