Terra
rasgada, cidade tropeira, Manchester Paulista ,nossa terra tem muitas
lembranças que abrandam e inspiram momentos de grandeza,pois na sua beleza
humaniza até a escravidão ,apagando suas marcas, mudando trajetórias, mas
sobraram memórias que lembram os fatos escuros ,retratando um mundo que nos
leva a pensar.
Pra
começar, vamos no Mercadão relembrar a Capela que ali existiu, território negro
,tinha rodas e água ,imperou a chibata da desapropriação não ficou um quinhão
pra poder nos lembrar ,coube então soterrar ,só no resta comprar...
Logo a
frente vamos pra Catedral, encontrar Benedito,este santo assumido que viveu
excluído no seu traço europeu mas se o homem é de Deus não tem só uma feição
ele é preto meu irmão e não se esconde mais.
E a
nossa senhora, resgatada na rede trouxe peixes no rio hoje foge de outras águas,
que apagam as marcas de um negro devoto, lá se vai um registro vai restar só um
mito sobre aparição ,se não houve perdão fica apenas a pena já não vejo a
cena só nos resta o respiro.
Encontramos
a praça e vejo as oligarquias, na soberba distinta com sorriso no olhar ,era o “Footing”
nos finais de semana, com uma banda bacana todos a desfilar, tenha calma vamos
sem “misturança” cada classe da dança deve ser respeitada e não venha com
grassa se você é mais escuro ,não separo com muros mas no círculo do mundo todos
tem seu lugar.
Vamos
indo ,a irmandade sorrindo, consagrando seus ritos na porta “sinhô”, com pavor
vamos logo saindo, o lugar é distinto pra negro edificar, ainda tem nesse mundo
quem acredita que a fé tem formato e até, uma regra de cor, pois somente um
senhor pode edificar
No
caminho seguindo vejo falsos heróis, registrados em placas, escondidos nas
datas que amenizam a dor ,apagando o horror de um tempo sombrio deste nosso Brasil que insiste em assombrar é
importante lembrar pra não deixar esquecer ,quem bateu fez doer é um conforto
esquecer!
Rua íngreme
logo se aplana vem aquela lembrança desta nossa festança, escuto nossos
tambores ,Umbigada, energia vital, harmonia geral pra quem se permite
sentir, ocupamos a praça pra lembrar das
Capelas e acendemos a vela da lembrança sem casa ,que não aceitava pousada, descansou sem uma vala mas ganhou moradia.
Lá na
rua da Bica seguimos ao Ventre Livre, atirando sem rifles em sonhos de
liberdade buscamos a humanidade o acaso apronta e no traz um emissário de um
longínquo cenário que nos faz indagar:
Como
vão os irmãos frutos da escravidão, encarando o destino de um tirano escolher,
como pode oprimir pra poder excluir que não foi incluído e continua perdido
construindo seus mitos de uma terra melhor.
Caminhando
passamos pela irmandade de São Benedito relembramos seus ritos e seguimos andando,
não mudamos os planos, pois já esta terminando a viagem no tempo, eu não fiz
juramento mas eu quero cumprir o caminho final
ver aquela escultura que já está meia aflita ,remetendo a feridas que
não querem fechar ,não queremos lembrar mas não podemos esquecer e com muito prazer vou ficar por aqui foi
assim que eu senti, agora posso sorrir, relembrar, resistir...
MANOEL FRANCISCO FILHO
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