quinta-feira, 10 de novembro de 2016

PASSEIO MEMÓRIAS NEGRAS SOROCABANAS

Terra rasgada, cidade tropeira, Manchester Paulista ,nossa terra tem muitas lembranças que abrandam e inspiram momentos de grandeza,pois na sua beleza humaniza até a escravidão ,apagando suas marcas, mudando trajetórias, mas sobraram memórias que lembram os fatos escuros ,retratando um mundo que nos leva a pensar.
Pra começar, vamos no Mercadão relembrar a Capela que ali existiu, território negro ,tinha rodas e água ,imperou a chibata da desapropriação não ficou um quinhão pra poder nos lembrar ,coube então soterrar ,só no resta comprar...
Logo a frente vamos pra Catedral, encontrar Benedito,este santo assumido que viveu excluído no seu traço europeu mas se o homem é de Deus não tem só uma feição ele é preto meu irmão e não se esconde mais.
E a nossa senhora, resgatada na rede trouxe peixes no rio hoje foge de outras águas, que apagam as marcas de um negro devoto, lá se vai um registro vai restar só um mito sobre aparição ,se não houve perdão fica apenas a pena já não vejo a cena  só nos resta o respiro.
Encontramos a praça e vejo as oligarquias, na soberba distinta com sorriso no olhar ,era o “Footing” nos finais de semana, com uma banda bacana todos a desfilar, tenha calma vamos sem “misturança” cada classe da dança deve ser respeitada e não venha com grassa se você é mais escuro ,não separo com muros mas no círculo do mundo todos tem seu lugar.
Vamos indo ,a irmandade sorrindo, consagrando seus ritos na porta “sinhô”, com pavor vamos logo saindo, o lugar é distinto pra negro edificar, ainda tem nesse mundo quem acredita que a fé tem formato e até, uma regra de cor, pois somente um senhor pode edificar
No caminho seguindo vejo falsos heróis, registrados em placas, escondidos nas datas que amenizam a dor ,apagando o horror de um tempo sombrio  deste nosso Brasil que insiste em assombrar é importante lembrar pra não deixar esquecer ,quem bateu fez doer é um conforto esquecer!
Rua íngreme logo se aplana vem aquela lembrança desta nossa festança, escuto nossos tambores ,Umbigada, energia vital, harmonia geral pra quem se permite sentir,  ocupamos a praça pra lembrar das Capelas e acendemos a vela da lembrança sem casa ,que não aceitava pousada,  descansou sem uma vala mas ganhou moradia.
Lá na rua da Bica seguimos ao Ventre Livre, atirando sem rifles em sonhos de liberdade buscamos a humanidade o acaso apronta e no traz um emissário de um longínquo cenário que nos faz indagar:
Como vão os irmãos frutos da escravidão, encarando o destino de um tirano escolher, como pode oprimir pra poder excluir que não foi incluído e continua perdido construindo seus mitos de uma terra melhor.

Caminhando passamos pela irmandade de São Benedito relembramos seus ritos e seguimos andando, não mudamos os planos, pois já esta terminando a viagem no tempo, eu não fiz juramento mas eu quero cumprir o caminho final  ver aquela escultura que já está meia aflita ,remetendo a feridas que não querem fechar ,não queremos lembrar mas não podemos esquecer  e com muito prazer vou ficar por aqui foi assim que eu senti, agora posso sorrir, relembrar, resistir...   

MANOEL FRANCISCO FILHO

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